Canto VI
XXXVII
Copiosa multidão da nau francesa
Corre a ver o espetáculo assombrada;
E, ignorando a ocasião de estranha empresa,
Pasma da turba feminil que nada.
Uma, que às mais precede em gentileza,
Não vinha menos bela do que irada;
Era Moema, que de inveja geme,
E já vizinha à nau se apega ao leme.
Corre a ver o espetáculo assombrada;
E, ignorando a ocasião de estranha empresa,
Pasma da turba feminil que nada.
Uma, que às mais precede em gentileza,
Não vinha menos bela do que irada;
Era Moema, que de inveja geme,
E já vizinha à nau se apega ao leme.
XXXVIII
"- Bárbaro (a bela diz), tigre e não homem...
Porém o tigre, por cruel que brame,
Acha forças amor que enfim o domem;
Só a ti não domou, por mais que eu te ame.
Fúrias, raios, coriscos, que o ar consomem.
Como não consumis aquele infame?
Mas apagar tanto amor com tédio e asco...
Ah que o corisco és tu... raio... penhasco?
Porém o tigre, por cruel que brame,
Acha forças amor que enfim o domem;
Só a ti não domou, por mais que eu te ame.
Fúrias, raios, coriscos, que o ar consomem.
Como não consumis aquele infame?
Mas apagar tanto amor com tédio e asco...
Ah que o corisco és tu... raio... penhasco?
(...)
XLI
Enfim, tens coração de ver-me aflita,
Flutuar moribunda entre estas ondas;
Nem o passado amor teu peito incita
A um ai somente com que aos meus respondas!
Bárbaro, se esta fé teu peito irrita,
(Disse, vendo-o fugir), ah não te escondas!
Dispara sobre mim teu cruel raio..."
E indo a dizer o mais, cai num desmaio.
Flutuar moribunda entre estas ondas;
Nem o passado amor teu peito incita
A um ai somente com que aos meus respondas!
Bárbaro, se esta fé teu peito irrita,
(Disse, vendo-o fugir), ah não te escondas!
Dispara sobre mim teu cruel raio..."
E indo a dizer o mais, cai num desmaio.
XLII
Perde o lume dos olhos, pasma e treme,
Pálida a cor, o aspecto moribundo;
Com mão já sem vigor, soltando o leme,
Entre as salsas escumas desce ao fundo.
Mas na onda do mar, que irado freme,
Tornando a aparecer desde o profundo,
- Ah! Diogo cruel! - disse com mágoa,
E, sem mais vista ser, sorveu-se n’água.
Pálida a cor, o aspecto moribundo;
Com mão já sem vigor, soltando o leme,
Entre as salsas escumas desce ao fundo.
Mas na onda do mar, que irado freme,
Tornando a aparecer desde o profundo,
- Ah! Diogo cruel! - disse com mágoa,
E, sem mais vista ser, sorveu-se n’água.
Análise por João Victor de Paula:
Frei Santa Rita Durão escreve sobre a chegada de naus à costa baiana. Este trecho é da obra caramuru, a mais famosa do autor.
No poema temos caramuru, que era Diogo, Paraguaçu, por quem ele se apaixonou, e Moema, a que mais o amou. Quando Diogo resolveu voltar para Portugal, levou Paraguaçu e deixou várias índias apaixonadas. Moema atirou-se ao mar atrás da nau portuguesa. O trecho acima mostra esse momento, considerado um dos mais bonitos, em que Moema morre.
O poema segue a estrututura dos versos camonianos (de Camões) e da epopeia clássica, com fortes influências da mitologia grega: composto por 10 cantos, versos decassílabos, oitava rima camoniana. Segue também com a divisão tradicional das epopeias: proposição, invocação, dedicatória, narração e epílogo.
Frei Santa Rita Durão escreve sobre a chegada de naus à costa baiana. Este trecho é da obra caramuru, a mais famosa do autor.
No poema temos caramuru, que era Diogo, Paraguaçu, por quem ele se apaixonou, e Moema, a que mais o amou. Quando Diogo resolveu voltar para Portugal, levou Paraguaçu e deixou várias índias apaixonadas. Moema atirou-se ao mar atrás da nau portuguesa. O trecho acima mostra esse momento, considerado um dos mais bonitos, em que Moema morre.
O poema segue a estrututura dos versos camonianos (de Camões) e da epopeia clássica, com fortes influências da mitologia grega: composto por 10 cantos, versos decassílabos, oitava rima camoniana. Segue também com a divisão tradicional das epopeias: proposição, invocação, dedicatória, narração e epílogo.